Um dia, em Julho passado, a cantora de 21 anos. que tinha estado a pé até às 6 da manhã, estava de volta ao estúdio às 2 da tarde para ajudar à mistura final das vozes no seu novo álbum. Apreciava realmente o seu horário de trabalho. Porque, ao contrário do que possa parecer, Carey não chegou por artes mágicas, há 15 meses atrás, ao topo das tabelas. “A maioria das pessoas não pensa que eu tive dificuldades” — disse ela, durante uma pausa nos Estúdios Right Track, em. Manhattan. “Mas eu condensei 10 anos de trabalho em três. Foi como avançar rapidamente. Trabalhar em contra-relógio. Trabalhava como empregada de mesa até à meia-noite, depois ia para o estúdio trabalhar no álbum até às 7 da manhã, dormia e fazia tudo outra vez, dia após dia. Ninguém me ajudou e eu tinha muito pouco dinheiro.”
Esse disco de estreia, Mariah Carey — um dos mais intensamente promovidos na história da Columbia Records —, vendeu mais de cinco milhões de cópias e valeu a Carey um Grammy para a melhor nora artista do ano de 1990. O seguinte, Emotions, chega-nos menos de ano e meio depois. Tão perto do seu mega-sucesso, este lançamento vai contra o critério convencional no negócio da música de que a maioria das estrelas pop espera dois a tres anos entre cada disco.
“Discuti isso com todos” — disse ela. “Decidimos que devia lançar um disco novo em breve, porque estava a progredir desde o primeiro.”
“Eu queria que Emotions fosse produzido mais esparsamente que o outro” — continuou. “Em em grande parte foi. Também quis aplicar as influéncias de toda a música que adoro, como Motown e Stevie Wonder. Sinto que o ritmo das canções foi ligeiramente superproduzido no disco anterior.”
Ambos os discos apresentam o canto pop-gospel tecnicamente impressionante e apaixonado de Carey. Poucos vocalistas de qualquer género musical têm vozes tão flexíveis quanto a de Carey.
O novo disco deve abafar as críticas que apontam Carey como imitadora vocal de Whitney Houston, ainda que os seus discos tenham a colaboração de muitas das mesmas pessoas.
No ano passado, Carey conseguiu “roubar” alguma glória a Houston. As vendas de Mariah Carey ultrapassaram em cerca de dois milhões as do terceiro e último álbum de Houston, I'm Tour Baby Tonight. Carey está pouco à vontade para fazer comparações. Mas Walter Afanasieff, que ajudou nos arranjos dos três discos de Houston e co-produziu vários temas de Emotions, não.
“Mariah é compositora e produtora, bem como vocalista” — disse. “Whitney não compõe nem produz as canções. Geralmente chega e canta até à última etapa do processo de gravação. Whitney tem uma bela voz mas Mariah é infinitamente mais controlada. Mariah tem 10 ideias sobre o que cantar num determinado ritmo e escolhe o melhor. Penso que Emotions vai demonstrar uma separação total entre as duas.”
Apesar da maioria das canções de Emotions não abandonar o género pop-gospel do primeiro disco, o perfil de Carey foi dramaticamente definido por arranjos improdutivos e vigorosos. E a sua imagem de marca vocal, que oscila como uma trapezista virtuosa, e observada mais efectivamente em Emotions.
Se as façanhas vocais de Carey são comparadas às de Yma Sumae ou Minnie Riperton, o que as distingue é a carga rítmica. No extremos oposto, a expressão negra de Mariah Carey é poderosamente demonstrada pela primeira vez em “If It's Over,” uma colaboração com Carole King, um regresso ao clássico desta, em finais de 60, “A Natural Woman.” Aqui e ali, o canto de Carey toca a imagem rude, roqueira, que faz lembrar a cantora soul Teena Marie. E na última faixa do disco, “The Wind,” ela aproximase promissoriamente do reino do canto jazz. A canção foi descoberta por Afanasieff no álbum de Keith Jarrett, Paris Concert. Carey juntou-lhe palavras dela.
O único sinal de imaturidade pop em Emotions pode ser ouvido nas letras de Carey, que descrevem os extasiados altos e desesperados baixos do romance, em clichés rudes e tocados de enfiada, quase sem rima. “You've got me feeling emotions” são as primeiras palavras do tema que dá nome ao disco.
Carey, que aparenta ser demasiado prática para poder ser a romântica torturada que os temas sugerem, insiste que estes não reflectem uma vida amorosa tempestuosa.
“Por vezes, a inspiração é mais na vida real que no romance, mas eu escrevo sobre o amor porque é mais fácil e as pessoas podem relacionar-se com isso.”-A atitude de Carey reflecte o pragmatismo de alguém que sempre se considerou uma pessoa independente. Os pais divorciaram-se tinha ela três anos. O pai, engenheiro aeronáutico, é negro e venezuelano. A mãe, Patrícia Carey, de descendência irlandesa, é professora de canto, e cantora de ópera e foi solista da Ópera de Nova Iorque em finais dos anos 60 e princípios dos anos 70. O irmão e a irmã, nove e dez anos mais velhos que ela, deixaram a casa no fim da adolescência. Aos sete anos, diz Carey, a sua única ama era um pequeno rádio.
“A minha mãe e eu quase crescemos juntas” — conta. “Éramos como uma equipa. Ela costumava levar-me a todo o lado e eu era uma jovem adulta aos cinco ou seis anos. Como ela, por vezes, trabalhava todo o dia, e à noite eu ficava sozinha em casa. Foi assim que ganhei a minha independência.”
A familia mudou-se 13 vezes, apesar de, pelo menos na adolescência, Carey ter conseguido fixar-se em Huntington, Nova Iorque, o tempo suficiente para fazer amigos. Enquanto a maioria deles seguiu para a faculdade, ela mudou-se para Nova Iorque para fazer carreira.
Obcecada pela música pop desde bebé, Carey começou a compor aos 13 anos. Através de amigos do irmão, conheceu Ben Margulies, o seu primeiro colaborador importante. Juntos, escreveram seis canções para o primeiro disco, incluindo os êxitos “Vision of Love,” “Someday” e “Love Takes Time.” Os dois estão agora afastados devido a uma disputa de trabalho.
“Quando nos conhecemos, ela tinha 17 e eu 24 anos” — recorda Margulies. “Trabalhámos juntos por um período de três anos, a incrementar a maioria das canções do primeiro disco. Ela possuía a capacidade de escutar coisas no ar e de criar as canções a partir dai. Várias vezes me sentei a tocar qualquer coisa, e ela, de um acorde, começava a trautear melodias e surgia com uma ideia.”
“Espero juntar-me de novo a ela, num futuro não muito distante, e trabalhar como sempre fizemos. Tenho esperança que a arte pervaleça sobre o negócio.”
Através da rede musical de Manhattan, Carey obeteve emprego, no coro, para Brenda K. Starr, uma artista de música de dança, que se tornou a sua sincera defensora. Foi Starr quem, numa festa da industria musical, arrastou Carey para conhecer Tommy Mottola, o presidente da CBS Records (agora da Sony Music Entertainment) e lhe deu a cassete dela.
Mottola fez de Carey a sua protegida e serviu de produtor executivo em ambos os discos (várias notícias têm divulgado um romance. mas nenhum deles discute a sua relação publicamente).
Não há dúvida que o tratamento personalizado de vedeta acelerou a carreira dela, mas é provável que, de qualquer modo, a sua fenomenal voz gospel a tenha impelido para o topo das tabelas. Apesar de parecer que Carey eresceu a cantar numa igreja de Harlem, ela descobriu o gospel por acaso. “Quando era pequena, os irmãos ouviam Al Green, Stevie Wonder, Aretha Franklin e Gladys Knight” — diz. “Quando cresci, descobri que Al Green e Aretha Franklin tinham discos gospel e fui comprá-los. Dai, descobri as Clark Sisters, Shirley Caesar, Mahalia Jackson, Vanessa Bell Armstrong e todos os outros. Adoro este estilo, porque é tão livre e verdadeiro e rude.”
Nunca sentiu vontade de estudar ópera, a pesar de ter voz para isso. “Tenho muito respeito por todos os anos de treino que são precisar para se cantar assim,” diz, “mas no e o meu género.” Ainda assim, sem o exemplo da mãe, ela talvez não tivesse sido cantora profissional.
“Como a minha mãe o fez para ganhar a vida, quando eu era criança, eu sabia que podia ser mais que um sonho. A minha mãe sempre me desse ‘es especial. Tens talento.’ Ela fez-me acreditar que eu ia conseguir.” Se Carey é uma grande celebridade, é o oposto de uma estrela como Madonna, que exige atenção, deleita-se com a controvérsia e adora actuar. Embora já tenha actuado para uma audiência, Carey tem ainda de se envolver numa tournée. Mais cedo ou mais tarde, está consciente, tera de transpor esse obstáculo. “Não sou do gênero Broadway. Sou introvertida, sinto-me mais feliz quando crio no meu pequeno mundo dentro do estúdio. Não gosto de actuar. Tenho de fazê-lo porque é um seguimento. Se tivesse saído em tournée, não teria outro disco cá fora durante, pelo menos, outro ano.”
“E muito difícil para a minha voz. Preciso de dormir muito e os temas são muito enérgicos. Como não sou cantora-bailarina, as pessoas não querem que lhes sussurre ao ouvido. Querem ouvir cada palavra. Decididamente ainda não é desta que vou fazer uma tournée.”
“Não quero colar-me às pessoas e obriga-las a escutarem-me, até ficarem enojadas, nela fase inicial da minha carreira. Eu faço musica pop e isso faz-me feliz. Quero continuar por cá mais um tempo.”